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Alta de preço do arroz ameniza, mas está longe de saldar prejuízos das últimas cinco safras
O atual preço do arroz está elevado, mas isso não significa que esse valor está chegando integralmente ao produtor rural
Mauro Osaki
Renato Garcia Ribeiro
Pesquisadores do Cepea
Pesquisas realizadas pelo Cepea em parceria com a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) mostram que a orizicultura sul-rio-grandense registrou rentabilidade negativa da safra 2014/15 até 2018/19, tendo como dois piores momentos as temporadas 2017/18 e 2018/19.
Na safra 2017/18, mesmo colhendo uma produtividade acima da média histórica, a receita bruta não saldou o Custo Operacional Efetivo (COE), devido ao baixo preço do cereal no mercado doméstico. Por outro lado, 2018/19 foi bastante prejudicada por intempéries climáticas do início e no fim da temporada, resultando em queda de produtividade e, em casos mais extremos, em perda de área de produção, em decorrência de alagamentos.
Na safra 2019/20, depois de cinco temporadas com receitas brutas inferiores aos Custos Totais (CT) de produção, finalmente, o produtor conseguiu saldá-los. O Custo Operacional Efetivo ficou, em média, em R$ 7.407,2/hectare e o CT, em R$ 9.009,7/ha, resultando em margem bruta de R$ 4.049/ha e em lucro de R$ 1.533/ha. Apesar disso, os prejuízos das safras anteriores ficaram longe de serem recuperados.
Nas últimas cinco safras (de 2014/15 a 2018/19), os produtores típicos de Uruguaiana (RS) conseguiram saldar o COE, mas a Receita Bruta (RB) obtida não foi capaz de quitar a depreciação das máquinas e equipamentos nas safras 2017/18 e 2018/19, assim como o juro sobre o capital investido nas cinco temporadas. Além disso, a receita bruta não saldou o custo total destas cinco safras. Esse cenário, somado ao alto endividamento, acabou por comprometer muito o caixa dos produtores e por resultar em rolagem dessas pendências financeiras para safras seguintes.
A consequência do acúmulo do saldo econômico negativo de uma safra para outra, por sua vez, dificulta a captação de recurso financeiro para o custeio das temporadas subsequentes. Nesse sentido, muitos orizicultores não têm acesso (ou têm acesso restrito), por exemplo, ao recurso financeiro governamental do Plano Safra, que oferece menores taxas de juros. E isso força o produtor a recorrer ao financiamento de custeio com agentes de mercado com taxas de juros elevadas e/ou a vender antecipadamente uma parte expressiva da sua produção para as indústrias. Esse problema agrava-se quando ocorre uma frustração de safra.
Poucos orizicultores se beneficiam de preço recorde do arroz em casca
O atual preço do arroz está elevado, mas isso não significa que esse valor está chegando integralmente ao produtor rural, uma vez que muitos antecipam a venda da produção, modalidade de comercialização verificada com maior frequência nas últimas temporadas. Nas últimas cinco safras, pelo menos 1/3 da produção de arroz foi negociada antecipadamente com as cerealistas e indústrias. A outra parcela é comercializada no período da colheita, para saldar os compromissos de curto prazo. Portanto, poucos produtores rurais estão se beneficiando do atual patamar recorde nos preços do arroz.
Vale lembrar que o custo de produção tem aumentado nessas cinco safras, por conta, especialmente, do encarecimento da energia elétrica para a irrigação e dos acréscimos nos valores do diesel e do frete rodoviário. Quanto ao fertilizantes e defensivos agrícolas, as elevações dos preços estão atreladas ao dólar alto, visto que grande parte da matéria-prima utilizada para a produção desses insumos é importada.
Como a capacidade de reinvestimento na propriedade está baixa, observam-se aumento de operação com máquinas obsoletas e menos eficientes e a substituição de área de arroz por atividades mais rentáveis, como a soja, e, em casos mais extremos, a saída da atividade.