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Cevada com boas perspectivas nesta safra
Fomento resultou em aumento de área no ParanáA área de cevada no Brasil tem se mantido em torno de 100 mil hectares nos últimos anos, mas o que define o mapa da produção é o clima. A afirmação é do pesquisador da Embrapa Trigo Euclydes Minella que avalia o cenário como positivo para a cevada semeada há pouco na Região Sul, onde está concentrada a produção.
A expectativa é de pequeno aumento na área de cevada no Brasil, chegando a 123 mil hectares segundo levantamento do IBGE (junho 2018). Contudo, a previsão de clima favorável deverá resultar em rendimento médio acima de 3 mil kg/ha, com um volume de produção estimado em 427 mil toneladas.
A cevada é opção de muito produtores no inverno devido a fatores como liquidez e janela de cultivo. “No sistema de rotação, a cevada é o cereal de inverno que saí primeiro da lavoura, permitindo a semeadura da soja na melhor época”, avalia o pesquisador Euclydes Minella, destacando também vantagens da cevada para melhoria do solo: “o sistema radicular é mais denso, favorecendo a porosidade do solo e trazendo resultados positivos na cultura que vem na sequência”.
Contudo, a liquidez de mercado é o principal atrativo da cevada. As empresas estabelecem contratos de compra com os produtores antes mesmo da semeadura, muitas vezes contando com o fornecimento de insumos. O pagamento tem como referência o trigo, desde que os grãos atinjam o padrão mínimo de germinação de 95% exigido para a indústria de malte. “O produtor sabe o quanto poderá receber com a venda ainda antes do plantio, o que permite ajustar o custo de produção à remuneração acertada para a entrega”, observa Minella.
Entretanto, em função do clima subtropical adverso à produção de cereais de inverno no Brasil, as frustrações de safra também são recorrentes na cevada. O principal desafio é a chuva na colheita, que afeta o teor de germinação dos grãos da cevada cervejeira, desqualificando o produto para a indústria de malte. Nestas condições, os grãos são destinados à alimentação animal, remunerados com, no máximo, 50% do valor da cevada com padrão cervejeiro. “No mundo, 2/3 da cevada produzida tem como destino a alimentação animal. Porém, no Brasil nós temos opções mais baratas para ração, como o milho que tem potencial de rendimento muito maior e ampla adaptação no território nacional”, explica Minella. Ainda assim, segundo o pesquisador, a destinação da cevada para a produção animal é garantida, principalmente para bovinos, devido ao alto valor proteico dos grãos que pode resultar em melhor rendimento e qualidade do leite.
Crescimento no Paraná
Enquanto a área final ainda não está definida no Rio Grande do Sul (expectativa de 65 mil ha) e em Santa Catarina (1,3 mil ha), no Paraná a semeadura encerrou com crescimento de 7%, chegando em 54 mil ha. O aumento é resultado do fomento da Cooperativa Agrária, proprietária da maior maltaria da América Latina. Somente para atender a Agrária Malte (Guarapuava, PR), seriam necessárias cerca de 400 mil toneladas de cevada cervejeira. Na AmBev (maltaria em Passo Fundo, RS), a demanda é de 150 mil toneladas de cevada por ano.
De acordo com o departamento técnico da Agrária, 60% dos cooperados cultivam cevada todos os anos, com a cultura inserida, na maioria dos casos, na rotação com trigo e aveia no inverno. “Apesar dos problemas com o clima no ano passado, com seca na implantação da lavoura e chuva na colheita, nossos produtores colheram a média de 3.630 kg/ha com padrão cervejeiro. A qualidade foi satisfatória, mas não atendeu nossa expectativa em quantidade”, conta o engenheiro agrônomo Silvino Caus. Somente na área dos cooperados são cerca de 34 mil hectares com cevada nesta safra, com previsão de chegar aos 4.500 kg/ha na média de rendimentos nas lavouras.
Para atender a demanda da maltaria, a Agrária vêm expandindo sua área de atuação, promovendo o trabalho do fomento à cevada também no Rio Grande do Sul e Santa Catarina. “Os cooperados contam com o fornecimento de todos os insumos, o que assegura os bons resultados em qualidade e quantidade. Porém, o fomento também acontece junto a outros produtores, não cooperados, que não recebem os insumos, mas estabelecem contratos de compra com a cooperativa”, explica Caus.
Cultivares
Para assegurar a uniformidade dos lotes que chegam à indústria, o setor produtivo trabalho com um número reduzido de cultivares, definidas pelas empresas através do fomento, que avalia a melhor alternativa para fabricação de diferentes produtos.
Nesta safra, estão em cultivo materiais da Embrapa (BRS Cauê e BRS Brau na Região Sul; e BRS Sampa e BRS Itanema nos cultivos irrigados de SP, GO e MG); e da FAPA/Agrária (Ana 1, Ana 2, Irina e Daniele).
“A escolha da cultivar é determinada pela indústria junto com o produtor, registrada no contrato de compra e venda. Isso garante as características dos lotes destinados à fabricação da cerveja”, conclui Euclydes Minella, da Embrapa Trigo.