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Feiras livres movimentam o setor em Rondônia
A produção de hortifrútis, tubérculos e grãos em quintais e chácaras de Porto Velho e região vem se consolidando desde 2014, beneficiando-se do apoio da Secretaria Estadual de Agricultura (Seagri) e da Empresa Autárquica de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-RO). Nas bancas das feiras livres, carnes, ervas medicinais, farinhas, frutas, grãos, hortaliças e laticínios são vendidos a preços acessíveis, e ainda abrem espaço para o comércio de confecções populares.
Neste município de 34 mil quilômetros², cujo território é maior do que o dos Estados de Alagoas e Sergipe, individualmente, só não desfruta da excelência da fruticultura e grãos amazônicos quem não quiser. A fartura está presente na Feira do bairro 4 de Janeiro e em outras dezenas da cidade.
Promoção pupunha está escrito na faixa em frente a um dos caminhões carregados com essa fruta, um em cada lado da avenida Calama. Por R$ 5 o freguês leva um quilo desse saboroso componente do café da manhã regional.
Pupunha e rambutã vêm do Projeto Reca, no distrito de Nova Califórnia, na região da Ponta do Abunã. Duas dúzias por R$ 10. É também de lá a produção de castanha, cupuaçu e palmito.
O açaí moído na hora custa R$ 8, o litro, e dois litros são vendidos a R$ 15. “Este é da beira do Madeirão, rondoniense mesmo”, afirma satisfeito o feirante Cláudio Batista, chamando a freguesia para adquirir o açaí do distrito de São Carlos.
Com safra generosa de dezembro a julho, o milho verde ainda está presente nas bancas, em fevereiro. Sete espigas custam R$ 5 e antes das 10h de quarta-feira (8), a freguesia esvaziava oito sacos. “Eu admiro muito esse senhor e o jeito de atender ao freguês”, elogiou Servílio Ambrósio Nantes, morador do bairro Flodoaldo Pontes Pinto.
Em sua banca, Edneide Lopes dos Santos vende também por R$ 5 o monte de banana prata (com seis a sete unidades) cultivada em Colina Verde, distrito de Jorge Teixeira. “Mas a banana vem de todo lado, até da Boca do Acre”, observou.
A cartela com 30 ovos mistos custa R$ 10 e a de ovos vermelhos R$ 11 na banca de Juliana Beatriz Rodrigues, moradora do bairro Nova Porto Velho. “Vem da granja”, anuncia em voz alta. “Obrigada, volte sempre aqui”, repete aos fregueses.
Circulando entre as bancas, o menino José Henrique, 12 anos, estudante do 6º ano do ensino fundamental, auxilia a mãe vendendo pães caseiros a R$ 2 e a R$ 5. Maria Tereza Pádua Nunes, moradora do bairro Igarapé, comprou três pães, parou na banca mais próxima e adquiriu tucupi e macaxeira.
A maioria dos vendedores trabalha de terça-feira a sábado em diversos bairros da capital. Além da produção do município, eles também oferecem banana comprida produzida em Boca do Acre (AC) e a farinha de Cruzeiro do Sul (AC), consumida e conhecida no País.
O quilo da farinha d’água é vendido atualmente a R$ 5, e a de Cruzeiro do Sul a R$ 6; a goma a R$ 2,50, o litro.
Nivaldo Lago Marques, nascido na Ilha das Onças, no rio Madeira, traz o tucupi produzido na Vila São Domingos, na estrada para o Projeto de Assentamento Joana d’Arc. Em sua banca também são vendidos abacate, banana, goiaba, limão e maracujá, da mesma procedência.
A florista Aldenora Martins tem motivo especial para comparecer às quartas-feiras. Auxiliada pela irmã Socorro dos Santos, confecciona flores de seda e parafina e vende a R$ 10 e R$ 15. “Faço isso com muita paciência. É a terapia que escolhi para melhorar da minha esquizofrenia”, contou.
O queijo mussarela fabricado em agroindústria de Itapuã do Oeste sai por R$ 24 o quilo na banca de Cláudia Ramos. Ela também vende a manta de pirarucu a R$ 30.
O casal Ronilson Santos da Silva e Jaqueline Albuquerque, do bairro Cascalheira, oferece uma linha diversificada de ervas medicinais, cujas porções são vendidas entre R$ 3 e R$ 5. Entre sementes e folhas, as pessoas em regime alimentar podem adquirir, entre outros, preciosos hibiscos, linhaça e chia.
Para o maranhense nascido em Chapadinha, José da Conceição dos Santos, banana e macaxeira não podem faltar. Com experiência de 20 anos nas feiras de Porto Velho, ele garante que as melhores bananas vêm de União Bandeirantes. E brinca: “Eu aqui amanheço, e se não tiver produtos, o bicho pega e os filhos (quatro) podem passar necessidade”.
Na banca de José da Conceição, o quilo de macaxeira custa R$ 3 e dois quilos saem por R$ 5; e pelo mesmo preço, o monte de banana.
Com nove escritórios locais, dos quais um central e um regional, a Emater tem prestado serviços para associações de produtores, lembra o vice-presidente Márcio Milani.
Ele destacou, por exemplo, a atuação da Emater Porto Verde, que fomenta o plantio e dá assistência a pequenos produtores de alface, cebolinha, couve e cheiro verde. Já no Baixo-Madeira atua a equipe do escritório de Calama, apoiando diretamente a atividade agrícola de comunidades tradicionais dedicadas às roças de açaí, feijão caupi, melancia e ao preparo de carne de jacaré (comercializada em supermercados de Porto Velho).
SETOR ORGANIZADO
Uma das novidades no setor de horticultura é projeto de crédito fundiário para o assentamento de 250 famílias (aproximadamente mil pessoas) no Km 12, perto da Estrada dos Japoneses, conforme o vice-presidente da Emater-RO, Márcio André Milani.
Segundo ele, as famílias negociam o valor da terra com os proprietários, o governo estadual paga e, em seguida, amortiza o débito com a oferta da produção. “É a melhor forma de assentamento, algo testado com êxito no Sul de Rondônia, em Pimenta Bueno, e agora pela primeira vez em Porto Velho”, assinalou.
ASSOCIATIVISMO
Numa área de sete hectares, Izaías de Souza Albuquerque, da Cooperativa dos Produtores Rurais do Porto Verde (Coopverde), mantém cinco estufas com a produção de cheiro verde, tomate, pepino, pimentão, quiabo e jiló. Há dois anos ele defende o associativismo dos chacareiros, “a fim de obter condições, boa negociação e qualidade”.
A Coopverde tem cerca de 50 cooperados distribuídos no setor chacareiro Ronaldo Aragão e Setor 13, no município de Porto Velho. O setor já foi elogiado pelo governador Confúcio Moura, antes de adotar o crédito fundiário para os produtores circunvizinhos à Estrada dos Japoneses.
Já Izaías Jesus Oliveira, com a mulher Luzinete e os filhos, dedicam-se do outro lado da ponte do rio Madeira a produção num pequeno sítio de alimentos limpos de agrotóxicos. Recuperaram áreas degradadas e há três anos colhem alface, cenouras, abobrinha, pimentão, maxixe, couve, melancia, manga e outros hortifrútis.