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Live destaca fortalecimento da cafeicultura na Amazônia
Rondônia é o principal produtor de café da região Norte, respondendo por 97% da produção regionalA cafeicultura foi tema do segundo debate da série de lives "Amazônia em Foco”, no dia 22 de maio. Transmitido ao vivo, o evento contou com palestrantes das unidades de pesquisas da Embrapa do Acre (Rio Branco) e Rondônia (Porto Velho) e da Secretaria de Produção e Agronegócio do Acre (Sepa) e abordou os desafios e alternativas para o fortalecimento da produção de café na região. Mais de 100 participantes acompanharam o debate e puderam tirar dúvidas sobre a cultura por meio de chat interativo. Disponível no canal da Empresa no Youtube, a live já contabiliza 1.200 acessos.
De acordo o pesquisador Henrique Alves, mediador do encontro, a produção de café é uma atividade em expansão na Amazônia, mas o tema não é novo na região. O desenvolvimento econômico da cafeicultura amazônica, com introdução do cultivo do café conilon, teve início na década de 1970, com a chegada de imigrantes de Minas Gerais, Paraná e, principalmente do Espírito Santo, que vieram para a região em busca de solo e clima favoráveis para a produção de café e introduziram o cultivo de café conilon (Coffea canéphora). Após décadas de aprendizado, a região conta com uma das cafeiculturas mais emblemáticas do País.
“Os esforços dos produtores para melhorar a cultura, aliados ao uso de tecnologias recomendadas pela pesquisa, como as diversas variedades de café desenvolvidas pela Embrapa, em parceria com outras instituições, adaptadas às condições de clima e solo da Amazônia, contribuíram para fortalecer a produção de café na Amazônia e para conferir um novo status à atividade. A partir dessa diversidade genética, foi-se construindo a cafeicultura dos “Robustas Amazônicos”, baseada em variedades resultantes de cruzamento de cafés da espécie canéfora, o conilon e o robusta, com predominância deste último, que conferem à bebida qualidade e sabor diferenciados”, explicou Alves.
A série “Amazônia em Foco” é uma iniciativa organizada pelas unidades de pesquisa da Embrapa na região, para discutir temas relevantes para a agropecuária amazônica. A primeira live, coordenada pela Embrapa Amazônia Oriental (Belém/PA) e Embrapa Amapá (Macapá/AP), foi ao ar em 15 de maio e destacou os desafios da cadeia produtiva do açaí na Amazônia. A próxima edição, no dia 29 de maio, terá como temática os sistemas agroflorestais na Amazônia e contará com a participação da Embrapa Amazônia Ocidental (Manaus/AM) e Embrapa Roraima (Boa Vista/RR).
Salto em produtividade
O estado de Rondônia é o principal produtor de café da região Norte, respondendo por 97% da produção regional, e o segundo maior produtor de café conilon do País, com uma produção superior a dois milhões de sacas do grão, estimada para 2020. A cultura é praticada por cerca de 17 mil agricultores, em áreas de até quatro hectares, tem como base a mão de obra familiar e na maioria das propriedades o processo de colheita é manual, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 10 anos, a produtividade média da cultura mais que triplicou.
O pesquisador Alaerto Marcolan, chefe-geral da Embrapa Rondônia, palestrante na live, destacou a evolução da produção de café na Amazônia e a participação de diferenes atores no processo. Ele acredita que a grande transformação na atividade se deu com a substituição das variedades seminais por clones de café mais produtivos e adaptados à região, processo iniciado há uma década. A seleção de novos materiais genéticos, inicialmente fruto da experimentação empírica dos agricultores, passou a integrar a pesquisa na região e isso impulsionou a cultura. O desenvolvimento das lavouras também foi possibilitado pelo acesso a conhecimentos sobre a cultura, por meio de ações de capacitação ofertadas pela Embrapa e outras instituições ligadas ao agronegócio do café em Rondônia e outros estados da Amazônia.
“O uso de variedades clonais de café e a adoção de tecnologias disponibilizadas pela pesquisa, como irrigação, métodos de adubação e procedimentos adequados de colheita e pós-colheita, promoveu um salto na cafeicultura rondoniense. Em 2010 a produtividade média das lavouras era 10 sacas de grãos/hectare. Atualmente são 36 sacas/hectare, e em cultivos bem manejados e com alto padrão tecnológico pode alcançar 100 sacas/hectare, o que demonstra o enorme potencial da cultura no estado. Apesar do bom desempenho, ainda há muito o que fazer pela cultura na região e a pesquisa continuará investindo no desenvolvimento de novos materiais genéticos para alavancar ainda mais essa lavoura”, ressalta o gestor.
Café com sustentabilidade
Conforme dados do IBGE, o Acre é o segundo maior produtor da região, com uma produção de 32.817 sacas, volume insuficiente para abastecer o mercado interno e que impõe desafios para desenvolver a cultura que já contou com uma área plantada de 4.500 hectares, mas atualmente ocupa apenas 800 hectares. Na última década, a retomada da cultura, capitaneada pelo esforço conjunto do governo do estado, instituições de pesquisa e órgãos de extensão rural, agregou ganhos em tecnologia e um forte enfoque ambiental à produção.
Segundo Eufran Amaral, chefe-geral da Embrapa Acre, que também participou do debate durante a live, para desenvolver a cafeicultura acreana o Estado priorizou a renovação de antigos cafezais e a incorporação de áreas abandonadas, de capoeiras e áreas de pastagens degradadas com aptidão para a cultura, recomendadas por meio de estudos de zoneamento. Outra estratégia que tem dado certo é a produção consorciada com outras lavouras, alternativa que permite o uso racional da área e benefícios para a lavoura, como sombreamento das plantas e melhoria nas condições de fertilidade do solo.
Do lado da pesquisa, o gestor enfatizou também o esforço para disponibilizar materiais genéticos de qualidade e viabilizar viveiristas credenciados para tornar esses materiais acessíveis aos produtores. Além disso, a Embrapa gerou conhecimentos sobre novas técnicas de espaçamento, controle de pragas e doenças e estratégias de irrigação para possibilitar a cultura do café em áreas com restrições hídricas, para fortalecimento da produção de café no Estado.
“O Acre tem investido em alternativas para aumentar a produtividade sem abrir novas áreas, como estratégia para garantir sustentabilidade à cultura. Estamos trabalhando para expandir a cultura e melhorar o desempenho dos cultivos, conciliando aumento da produção, geração de renda para as famílias produtoras e conservação ambiental”, enfatiza Amaral.
De acordo com Edivan Azevedo, secretário de produção e agronegócio do Acre, outro palestrante do evento, o governo tem executado um conjunto de iniciativas para melhoria da cafeicultura no Estado, incluindo o apoio a produtores rurais por meio da cessão de máquinas e implementos agrícolas para instalação dos cultivos na propriedade e da disponibilização de assistência técnica para as famílias produtoras. Além disso, como medida de incentivo à produção, a partir de 2021 o Programa de Aquisição Alimentos (PAA) incluirá o café em seu portifólio de compras.
“O Acre tem mais de 20 indústrias de café, mas a produção local não atende à demanda desses empreendimentos, que necessitam comprar o grão de outros estados. Com uma área plantada em torno de 1.200 hectares, praticamente triplicamos a produção, comparativamente a uma área três vezes maior, nos anos 2000. Isso mostra que estamos produzindo mais em uma área menor e reforça o enfoque no aumento da produtividade. Com tecnologias adequadas é possível tornar os cultivos de café cada vez mais produtivos, garantindo trabalho e renda no campo e a manutenção da floresta”, finaliza o gestor.