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Mulheres são protagonistas na produção de café de Rondônia
Pela primeira vez, uma cafeicultora ganhou concurso de qualidade realizado no EstadoPela primeira vez, uma mulher foi a campeã do Concurso de Qualidade e Sustentabilidade do Café de Rondônia (Concafé). Promovida pelo Governo do Estado, é considerado a maior premiação da cafeicultura na região Norte. A engenheira agrônoma, viveirista e produtora Poliana Perrut, do município de Novo Horizonte, ganhou em seu Robusta Amazônico a nota 88,6, de acordo com a Metodologia de Avaliação Sensorial da SCA – Specialty Coffee Association, usada no mundo todo. O café que conquistou os avaliadores tinha características de chocolate, era doce e encorpado, com notas florais e que também lembravam jabuticaba. Foram 306 amostras inscritas na competição e enviadas de 30 municípios do estado.
Poliana traçou uma estratégia campeã. Testou os melhores clones de sua lavoura jovem e diferentes métodos de processamento como o natural e as fermentações positivas, tipo "Sprouting Process" e em tanques enriquecidos com leveduras. No final, a cafeicultora decidiu que iria concorrer com o café fermentado com leveduras, por apresentar um perfil sensorial muito complexo e único. Escolha que rendeu a ela o primeiro lugar no concurso e mais 15 mil reais em máquinas, além de ter as cinco sacas do café campeão vendidas a 3 mil reais cada.c “Com a premiação quero adquirir máquinas que me ajudem a obter lotes maiores com o mesmo nível de qualidade do café campeão. Também vou fazer cursos para aprender a provar os cafés, pelo menos para experimentar os lotes diferentes que pretendo fazer”, conta a campeã.
A edição de 2019 do Concafé contou com recorde de mulheres inscritas. Foram cerca de 50, isso são 550% a mais que no ano passado, quando apenas nove se inscreveram. “Fruto de mobilização, visibilidade e incentivo à participação mais ativa das mulheres, que sempre atuaram diretamente em todos os setores da cafeicultura”, comenta Poliana Perrut, que também é uma das representantes do Subcapítulo de Rondônia na Aliança Internacional das Mulheres do Café no Brasil – IWCA. Durante o ano de 2019, ela percorreu propriedades e participou de eventos que buscaram despertar o interesse das mulheres em fazer cafés com qualidade e se inscreverem no concurso.
A capacidade de empreender não está relacionada ao gênero. Os resultados obtidos em competições como esta mostram que não existe uma ‘guerra dos sexos’. O que se vê é uma parceria, é a soma que tem gerado bons frutos. “Cresci em uma família onde homens e mulheres se equivalem. Tive a sorte e o prazer de ter um marido que partilha dessa mesma opinião. Ele acredita e confia no meu trabalho, tem me apoiado imensamente. Quando achei que poderia não dar certo estes cafés especiais, ele sempre apoiou a continuar com o trabalho”, afirma Poliana. O esposo e parceiro Licleison da Silva, está orgulhoso e não esconde a satisfação. "Ela trabalhou, se dedicou e agarrou a oportunidade de mostrar o seu trabalho, colhendo os frutos do esforço”.
Novos aromas e sabores
As mulheres, aos poucos, estão ajudando a transformar o perfil da cafeicultura na Amazônia. Estão dando o exemplo de como o uso de novas tecnologias podem mudar realidades e criar novos produtos. Segundo o pesquisador da Embrapa Rondônia, Enrique Alves, muitos acreditam que é difícil produzir cafés canéforas (conilon e robusta) de qualidade especial. Mas, com o uso de tecnologias há uma nova gama de possibilidades. “As fermentações controladas vieram para ficar para os Robustas Amazônicos. O efeito da ação dos microrganismos nos frutos e grãos evidenciam e tornam mais intensas características de acidez e doçura, deixando a bebida bastante equilibrada e interessante aos mais exigentes paladares”, explica o pesquisador. Ele ressalta ainda que o cuidado no ponto ideal de colheita e a secagem lenta e cuidadosa dos frutos continua sendo essencial para atingir a qualidade desejada.
Mulheres cafeicultoras indígenas
Em outro concurso de qualidade dos Robustas Amazônicos, o Tribos, voltado para os povos indígenas de Rondônia, as mulheres também estiveram no topo. A indígena Diná Suruí e seu esposo Yamixãrah Suruí, do município de Cacoal, foram os campeões da primeira edição, realizada no mês de setembro de 2019. Os dois lidam juntos, diariamente, com a lavoura de café, que é a principal fonte de renda da família. “O café é tudo para nós. Com a premiação do Tribos vamos investir mais na lavoura, sempre com sustentabilidade”, afirma Diná. O segundo lugar no Tribos também foi fruto do trabalho conjunto do casal Valcemir Canoe e Melissa Tupari, do município de Alta Floresta d’Oeste. Sobre a atuação das mulheres na cafeicultura na aldeia Valcemir é categórico: “As mulheres é que estão firmes mesmo na lavoura”.
A cafeicultura de Rondônia é familiar, diversificada, inclusiva e está em constante renovação. Famílias, mulheres, indígenas e jovens estão promovendo a inovação e a qualidade na cafeicultura do estado e estão sendo premiados. Os concursos refletem isso e apresenta para o Brasil e o mundo sabores e aromas únicos da Amazônia. Sempre aliados a uma produção sustentável e a histórias de uma gente batalhadora que colhe o resultado de muita dedicação e capricho com o café.
Mulheres do café em Rondônia
As mulheres sempre tiveram importante papel, no emprego de sua sensibilidade e força de trabalho em todas as etapas do setor do café, seja na lavoura, na comercialização, como baristas, pesquisadoras, extensionistas e comunicadoras. Apesar de ativas, continuam quase invisíveis no processo e desvalorizadas. As ações de valorização e visibilidade da atuação das mulheres do café em Rondônia tiveram início em 2017, com a publicação do livro Mulheres dos Cafés do Brasil, pela Aliança Internacional das Mulheres do Café no Brasil – IWCA, que incluiu capítulo referente ao estado.
Em 2018 foi realizado pela Embrapa o primeiro Encontro das Mulheres de Rondônia, reunindo especialistas mundiais como a indiana Sunalini Menon, embaixadora do café na Ásia, a especialista em cafés especiais Josiana Bernardes e a diretora da IWCA Brasil, Cristiane Yuki Minami. Foi um momento de trocas de experiências e interação com mulheres do setor do café de Rondônia.