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Produtores de café de Rondônia vencem barreiras logísticas e ampliam safra de conilon
A produção de café conilon (robusta) em Rondônia tem avançado mesmo diante de toda a dificuldade logística enfrentada pelos cafeicultores do Estado.De 2016 para 2017, a safra aumentou 19%, alcançando 1,9 milhão de sacas de 60 kg, conforme dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Para 2018, a estimativa é de outro avanço, desta vez de pelo menos 17%, para 2,267 milhões de sacas.
Em nove anos, representantes locais destacaram os investimentos na cultura que fizeram a produtividade saltar de 9 sacas por hectare em 2011 para 26,10 sacas por hectare em 2017. Diante do melhor ambiente, a Câmara Setorial do Café de Rondônia espera um ritmo de crescimento de 400 mil sacas ao ano até 2020. “De agora para frente, com o avanço forte do replantio em 2015 e 2016, temos uma boa perspectiva”, garantiu o presidente da Câmara Setorial do Café, Ezequias Braz da Silva.
Em 2015, o Espírito Santo, principal produtor de conilon no País, começou a sofrer com uma grave crise hídrica. Desde então, os cafeicultores rondonenses têm chamado a atenção do setor industrial com seus avanços, mesmo a quase mil quilômetros das praças de Rio Branco (AC) e Cuiabá (MT), regiões mais próximas para o comércio do grão.
A produção de Rondônia já foi maior do que a esperada para este ano, de fato. Em 2003, recorde registrado pela Conab, a região colheu 2,5 milhões de sacas. Caso o dado para 2018 se consolide, o Estado se aproximará novamente do nível de 2010 (2,34 milhões de sacas). A diferença, segundo representantes do setor, é que o produtor hoje está muito mais competitivo e preparado.
Antes, a falta de treinamento e baixa tecnologia nas mudas era um empecilho, explicou o secretário de Estado de Agricultura de Rondônia, Evandro Cesar Padovani. Além disso, apenas o frete de Rondônia para o Porto de Paranaguá (PR), principal destino do grão rondonense no mercado interno, custa R$ 10 a mais do que o do Espírito Santo.
O baixo retorno desestimulava os produtores, explicou Ezequias Braz da Silva. “Por volta de 2012 o café de Rondônia estava praticamente acabado. Tivemos um forte trabalho de revitalização das lavouras”, disse.
Estudos de variedades clonais mais resistentes em parceira com os capixabas, treinamentos e um decreto assinado em 17 de março de 2015, que autorizava o início da colheita apenas em 10 de abril, ajudaram a elevar a produtividade média. Anteriormente, os produtores não esperavam o melhor ponto de colheita do café, tirando do pé grãos maduros junto com verdes.
O rendimento médio passou de 10,88 sacas/hectare em 2012 (a média brasileira era de 26,17 sacas/hectare) para 26,10 sacas/hectare em 2017, ante média nacional de 28,10 sacas/hectare. Esse ganho mais do que compensou o recuo na área plantada de 40% nos últimos cinco anos.
De acordo com o diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), Nathan Herszkowicz, de fato a cafeicultura da região passou por uma fase menos auspiciosa há alguns anos. “Especialmente nos cinco últimos anos isso tem mudado e em uma velocidade surpreendente. Hoje eles começaram a se equiparar à Bahia”, disse. Ele destacou também o clima propício para as lavouras, já que a região não sofre com períodos espaçosos de seca ou chuva.
Apesar das vantagens, Herszkowicz reconhece que a questão logística é um desafio, mas não impeditivo ao setor. “Se isso fosse um obstáculo impossível de se transpor, não haveria demanda para o café de lá. Rondônia pode ser considerado um dos polos de produção que podem surpreender no futuro”, argumentou.
Além disso, o setor ainda carece de grandes torrefadores na região. Boa parte de sua produção é encaminhada principalmente para o Paraná (mais de 2,7 mil km de distância) e vai parar nos armazéns de gigantes do mercado, como Cacique, Cia. Iguaçú de Café Solúvel e JDE.
Exportação
Os desafios são muitos, mas eles se sobressaem no campo da exportação. A maior proximidade de Rondônia aos portos do Arco do Norte é apenas simbólica. Isso porque o terminais do Norte têm pouca capacidade logística e de armazenamento para receber o café. Além disso, a maioria das embarcações que cruzam os rios até os terminais é destinada aos granéis (como soja e milho), bem diferente das necessidades do café, que é ensacado.
“Para eu mandar o café de Rondônia para os Estados Unidos pelo sistema aquaviário (para os portos do Arco Norte), o custo se equipara ao transporte para Santos, no litoral paulista”, disse Paulo Sergio Pereira, gerente da unidade de café da Interagrícola, que faz parte da multinacional ECOM Trading. Os Estados da região aguardam alternativas para o transporte. Projetos têm ganhado mídia para se fazer uma ferrovia que ligue o Brasil ao Oceano Pacífico, mas nada saiu do papel.
Com essas barreiras, os preços precisam ser muito competitivos para justificar o negócio. Em 2015 e 2016, no meio da crise hídrica capixaba, a saca na região chegou a ser negociada a R$ 500. Neste período, as exportações de café em grão do Estado somaram 1,8 mil toneladas, conforme dados dos Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC).
Em 2017, com a alta do preço interno, os envios retornaram ao nível normal, com apenas 610 kg de café torrado para a Bolívia, conforme estimativa do governo estadual.
Com o atual preço em Londres (ICE Futures Europe), a saca deveria estar entre R$ 290 (sem o frete) para trazer lucro ao exportador – bem abaixo do preço médio em janeiro no Espírito Santo de R$ 320/saca.