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Resistência de plantas daninhas a herbicidas preocupa agricultores
No Brasil, segundo pesquisador, há 28 espécies de plantas daninhas resistentes a herbicidasA situação atual da resistência de plantas daninhas a herbicidas nos diversos sistemas de produção do País foi retratada pelo pesquisador Décio Karam, da Embrapa Milho e Sorgo, durante o XXXII Congresso Nacional de Milho e Sorgo. Hoje, no Brasil, segundo o pesquisador, há 28 espécies de plantas daninhas resistentes a herbicidas, em diferentes níveis, e cerca de 50 relatos de resistência feitos por produtores em diversas regiões brasileiras.
Nesse cenário que compromete a eficiência produtiva da agricultura brasileira, as perdas econômicas alcançam patamares de R$ 9 bilhões, segundo Karam. “A estimativa do custo de resistência, apenas na área de soja no Brasil, está entre R$ 3,7 bilhões e R$ 6 bilhões, somente computando os gastos para o manejo das espécies resistentes. Porém, quando se insere uma perda de 5% devido à competição imposta por essas plantas, os custos chegam a até R$ 9 bilhões”, revela o pesquisador.
Associado a essa perda econômica, Karam ainda cita outro dado preocupante: a ausência de novos mecanismos de controle ou manejo da resistência nos próximos 10 anos, já que os ingredientes ativos dos herbicidas são ainda os lançados nas últimas décadas. “Buva, capim-amargoso, capim pé-de-galinha Amaranthus palmeri (identificada em 2015 no estado de Mato Grosso) exigem estratégias para prevenir a resistência. A chave é o manejo integrado”, explica Karam.
Sobre o Amaranthus, o pesquisador expõe que a entrada da planta no Mato Grosso foi ocasionada pelo trânsito de máquinas agrícolas vindas de áreas infestadas. Outro fato que merece atenção é a resistência do capim pé-de-galinha ao glifosato. “Em algumas regiões do Brasil, o problema é mais sério que o provocado pelo capim-amargoso”, mostra. Abaixo, veja as ações elencadas pelo pesquisador para prevenir o aparecimento da resistência (em negrito estão as mais enfatizadas por ele).
Estratégias preventivas contra a resistência
- Rotação de herbicidas;
- Aplicação sequencial;
- Mistura de herbicidas com residual semelhante;
- Aplicação de produtos em escapes;
- Rotação de culturas;
- Manejo integrado de plantas daninhas (integração dos métodos de controle);
- Acompanhamento das mudanças da flora;
- Limpeza dos equipamentos.
Milho tiguera deve ser manejo antes da implantação da nova cultura
O pesquisador Evandro Maschietto, da Fundação ABC, localizada no Paraná, destacou que o problema de plantas daninhas com resistência a herbicidas é maior na cultura do milho, após trigo e soja. “O milho voluntário ou tiguera pode provocar perdas de 64,4% na produtividade da soja (considerando a presença de quatro plantas de milho tiguera por metro quadrado). A presença de apenas uma planta por metro quadrado provoca perdas de produtividade de quase 30% na soja”, apresenta.
O pesquisador ainda enumerou em sua palestra as ocorrências de azevém resistente (com relatos de produtores que utilizam até 16 litros por hectare de glifosato sem eficiência de controle) e a buva. “Uma única planta pode produzir até 200 mil sementes e essas sementes podem se espalhar facilmente”. A agressividade do capim-amargoso ainda foi citada, cuja competição com milho e soja pode provocar perdas significativas de produtividade.
Entenda como acontece a resistência
A resistência é definida como a habilidade herdada de uma planta daninha em sobreviver e reproduzir-se após a exposição a uma dose de herbicida normalmente letal (dose de bula) para a população natural. É de ocorrência natural, devido as plantas daninhas evoluírem e se adaptarem às mudanças do ambiente e ao uso das tecnologias agrícolas. Na prática, o surgimento da resistência ocorre pelo processo de seleção de biótipos resistentes, já existentes na população presente nas áreas de produção, em função de aplicações repetidas e continuadas de um mesmo herbicida ou de herbicidas com mesmo mecanismo de ação, durante determinado período de tempo.