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ILPF permite ganho de peso animal mesmo em períodos secos
Garantir o ganho de peso dos rebanhos em períodos de seca é um grande desafio para os pecuaristas da região Semiárida. Mas uma pesquisa que vem sendo realizada pela Embrapa e parceiros na região do brejo paraibano tem demonstrado que isso é possível com a adoção da Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF). Em resultados preliminares com as raças guzerá e sindi o ganho de peso médio diário foi de 720 gramas por animal no período de chuva e 400 gramas no período seco.
“Se 30% do rebanho da Paraíba – o equivalente a 376.924 cabeças - estivesse sob o sistema ILPF, o ganho de peso potencial com esses resultados que obtivemos aqui seria de 452.309,4 arrobas, o que equivaleria a R$ 67.846.410”, calcula o pesquisador da Empresa Paraibana de Pesquisa, Extensão Rural e Regularização Fundiária (Empaer), Ricardo Leite, no dia campo sobre ILPF - uma estratégia para o negócio agropecuário no Nordeste, realizado na estação experimental de Alagoinha, PB.
Cerca de 250 pessoas entre pecuaristas, técnicos e estudantes das áreas de agronomia, zootecnia e veterinária compareceram ao evento. Todos interessados em conhecer os resultados das pesquisas com ILPF visando mitigar os efeitos das secas e estiagens e aumentar a oferta de alimentos para os animais, mesmo com a escassez de água. As pesquisas vêm sendo desenvolvidas há cinco anos pela Embrapa Algodão e Embrapa Solos, em parceria com a Empaer, Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Plano ABC e Rede ILPF.
Conforto térmico
Outro fator observado na pesquisa foi a importância das árvores para o conforto térmico animal. A temperatura do animal exposto ao sol na região chega a 41,8°C, enquanto que na sobra a temperatura cai para 34°C. “Em época de seca, das 10 às 15 horas os animais ficam aglomerados procurando sombra. Sem se alimentar, não ganham peso. Além disso, numa temperatura acima de 37°C o animal entra em estresse térmico, perde peso e diminui a produção de leite”, explica.
Vocação para pecuária
O presidente da Federação de Agricultura e Pecuária da Paraíba (FAEPA/Senar), Mário Borba, destacou a vocação da região semiárida para a pecuária. “Toda a pecuária do mundo está em regiões semiáridas. Porque aqui não podemos ter?”, questiona. Segundo ele, para que a pecuária possa avançar com sustentabilidade na região, é preciso investir em assistência técnica. “Ou o produtor se conscientiza que tem que se capacitar, que precisa de assistência técnica ou ele vai ficar parado na década de 1950. No futuro, só vai ficar no campo quem conseguir melhorar a produção. Temos que ter uma nova visão do que será a pecuária do futuro e da importância da tecnologia nesse processo”, afirma.
Mais resiliência contra a seca
A Unidade de Referência Tecnológica (URT) de Alagoinha foi instalada em 2015, com o objetivo de oferecer novas opções de manejo para a região. A área utilizada é de dois hectares, onde são trabalhadas as pastagens (braquiárias), em consórcio com espécies arbóreas como o sabiá e a gliricídia, além da produção agrícola com lavouras de milho e feijão macassar. “Nós passamos por vários anos de seca na região e esse sistema conseguiu se estabelecer e aumentar a resiliência dos sistemas agrícolas, relata o pesquisador da Embrapa Solos, André Amaral. “O ponto principal desse experimento é transformar toda a água da chuva em alimento e forragem”, acrescenta.
Segundo ele, o solo protegido é fator primordial quando se fala em melhorar a produtividade e a rentabilidade. “Se não temos solo coberto, em vez de produzir, nós perdemos solo e nutrientes, tornando os custos de produção elevados, então nosso desafio é mostrar como recuperar solos e pastagens degradadas e oferecer opções para diversificação de culturas”, observa.
Além de promover a cobertura do solo, o modelo ILPF para a região semiárida tem uma preocupação diferente das demais regiões, conforme o professor da UFPB Adailson Pereira. “Não queremos apenas formar palhada, mas também segurar a água por mais tempo no solo. E as raízes cumprem um papel fundamental nesse sentido. Elas ajudam a recuperar os nutrientes das diferentes camadas e canalizam a água para as partes mais baixas do solo. Também ajudam a aumentar o teor de matéria orgânica, que é capaz de segurar de cinco a dez vezes o seu volume em água no solo”, explica. “O agricultor do Semiárido sabe a importância de um mês a mais de água no solo”, completa.
Entre os objetivos da pesquisa desenvolvida na região estão: recuperar pastagens e produzir forragens, produzir alimentos sob o sistema plantio direto, produzir madeira, tornar os solos mais produtivos, aumentar o armazenamento de água no solo, favorecer o conforto animal e melhorar a rentabilidade do produtor.
Planejar é preciso
O Senar ficou responsável pelo tema “Planejamento da propriedade e custo na implantação do ILPF e seus diferentes arranjos produtivos”. “Eu vejo que muitos de vocês estão admirados com os resultados obtidos nessa URT, mas teoricamente, vocês também podem ter esses resultados na propriedade de vocês. Para isso, é preciso planejamento. A parte produtiva da propriedade é importante, claro. Mas a gestão é tão importante quanto. A questão administrativa deve ser levada muito a sério”, afirma o chefe do Departamento de Assistência Técnica e Gerencial do Senar, Gabriel Petelinkar.
Os participantes do dia de campo em Alagoinha tiveram ainda a oportunidade de conhecer a importância das forrageiras e da qualidade das sementes na produção de carne e leite; recomendação de adubação, correção e a evolução da atividade biológica dos solos com as diversas composições de plantas na URT; e sobre o uso da cerca elétrica para aumentar a área das pastagens da propriedade, fornecendo a melhor parte das forrageiras para os animais.
O evento foi uma realização da Embrapa, em parceria com a Empaer, Plano ABC, Rede ILPF, UFPB, Sementes Oeste Paulista (SOESP), Speedrite (empresa de cercas elétricas) e Rancho Alegre (produtos agropecuários).
Infográfico: Paula Rocha - estagiária da Rede ILPF