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Artigo - Ataques de percevejo castanho em pastagem exigem atenção do produtor
Com a volta das chuvas, a alegria do pecuarista retorna, mas, às vezes, nem tanto assim. As chuvas podem trazer junto com elas revoadas perigosas, que chamam a atenção pelo movimento e, também, pelo odor desagradável que deixam no ar. Na mesma época em que o pasto se recupera da seca e começa a mostrar seu verde mais bonito, uma preocupação pode surgir, e muitas vezes sem culpados aparentes... apenas com os danos que surgem à medida que o tempo passa. Mas eles estavam ali o tempo todo? Por que será que não vi, alguns podem se perguntar.
E a resposta será “é bem provável que sim”. Mas, em alguns casos, ainda não incomodavam tanto assim. É que enquanto o pasto pôde suportar o ataque ele suportou, enquanto ainda restavam nutrientes no solo, ele superou sem mostrar fadiga. No entanto, eventualmente, o pasto acusa o golpe. Ele começa a mostrar sinais de que não anda bem e que, além de lhe faltarem nutrientes, esse ano lhe faltou a chuva e o sol castigou mais do que o normal. Agora, os habitantes que ali estavam, sem causar problemas, deram o golpe de misericórdia, chegando a saírem da área em revoadas na busca de plantas mais vigorosas.
Falamos dos percevejos castanhos, insetos pequenos, mas vorazes em sugar a seiva das plantas. As espécies mais encontradas no Brasil Central, em pastagens, são Scaptocoris castanea e Scaptocoris carvalhoi. Tanto a fase jovem (de cor branco amarelada), quanto os adultos, vivem abaixo da superfície do solo e se alimentam nas raízes dos capins. Ocorrem em todo tipo de solo, mas pastagens localizadas em solos arenosos têm sido bastante afetadas, com danos expressivos e, até mesmo, a morte do capim, com reboleiras que chegam a cobrir extensas áreas. Em alguns locais com ataque mais severo encontramos inclusive áreas infestadas com plantas daninhas que surgiram após a morte do capim.
É isso que acontece em área com histórico de infestação, e não há solução fácil para se controlar o percevejo castanho em pastagens. Se pensarmos em controle químico, não há inseticida registrado para combatê-lo, existem apenas produtos recomendados para seu controle em algumas grandes culturas. De qualquer forma, esse tipo de controle não é totalmente eficaz, pois os inseticidas sistêmicos translocam para a parte aérea, deixando a raiz, onde essa praga ataca, desprotegida. Se a aplicação for em épocas em que o percevejo está mais profundo, o inseticida não consegue chegar até ele. Além disso, em áreas de pastagens (extensas áreas normalmente) seria necessária grande quantidade de produto, o que tornaria inviável econômica e ambientalmente.
Mas e se fizermos o controle biológico? Ainda não há estudos que comprovem a eficiência a campo do uso de fungos, tampouco de parasitoides ou predadores que mantenham populações de percevejos castanhos sob controle.
Se usarmos cultivares resistentes? Sabe-se que o percevejo castanho é um inseto polífago, ou seja, que se alimenta em inúmeras plantas, sem distinção aparente. Já foi relatado percevejo castanho atacando até mesmo planta de “neem”, que, para quem nunca ouviu falar, é usada como inseticida contra outras pragas. Mas estudos têm sido conduzidos na tentativa de descobrir alguma espécie ou mesmo cultivar de pastagem que não seja atacada, ou que sofra menos com o ataque dessa praga. Quem sabe alguma seja menos preferida por ele, ou não se importe tanto com sua presença?
Diante desse cenário um tanto assustador, o que nos resta é tentar conviver com o percevejo castanho. De que forma? A recomendação para locais com alta infestação, ou àqueles que estão com muitos danos aparentes, é a reforma completa da área (correção do solo e adubação) pensando em melhorar as condições nutricionais da planta, para que suporte o ataque do percevejo. Observa-se que plantas mais bem nutridas (adubadas periodicamente) suportam melhor o ataque, muitas vezes nem manifestando os sintomas característicos.
Adicionalmente, é sempre importante estar atento ao monitoramento de pragas na sua pastagem, não só de percevejo castanho. Se amostragens forem feitas, associadas à correção e à manutenção da fertilidade do solo, à escolha da cultivar correta e ao manejo do pasto, os problemas com pragas serão minimizados, assim como os gastos desnecessários.
Felizmente, essa mentalidade tem chegado a mais pecuaristas nos dias de hoje: o cuidar, o antecipar, o prevenir, tem que fazer parte da rotina do “cultivador de pasto”, para que o retorno financeiro seja mais visível que os danos das pragas.
Fabrícia Zimermann Vilela Torres, engenheira-agrônoma e pesquisadora em entomologia de forrageiras tropicais.