#Pecuária
Carne premium pode aumentar em até 4 vezes o lucro da propriedade.
Importamos carne premium. Para abastecer o mercado precisamos quebrar paradigmas e superar desafios, incluindo o manejo.O Brasil produz cerca de 10 milhões de toneladas de carne bovina por ano, segundo dados da ABIEC- Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne. Isso nos coloca como o segundo maior produtor da proteína no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, que produz cerca de 12,5 milhões de toneladas/ano.
Do total de carne produzida no país, cerca de 25% são exportadas, fazendo do Brasil o maior exportador global de carne bovina.
Mas como anda a relação volume x qualidade? Neste quesito, ainda temos espaço para evoluir. Não existem dados precisos quanto ao volume da produção de carne premium no país, mas as estimativas são de que apenas 2% do total da carne produzida se enquadra nessa categoria: cerca de 200 mil toneladas/ano.
Será que falta mercado para estimular o produtor a investir na produção de carne premium? Os números mostram que não, já que o Brasil (maior exportador da proteína no mundo) importou cerca de 50,8 mil toneladas de carne premium em 2020 para abastecer o exigente (e crescente) mercado interno.
É inegável que a pecuária bovina evoluiu de maneira significativa nos últimos anos. Isso reflete nos números e na qualidade. Basta lembrar que, nos últimos 30 anos, a idade média de abate bovino caiu de cinco para três anos, com o peso médio dos animais subindo de 16@ para 20@, o que foi fundamental para que o Brasil se consolidasse como líder nas exportações de carne, fornecendo para mais de 180 países.
Vale destacar que carne premium é diferente de cortes especiais. Este segundo é apenas um “corte diferente”, mas da mesma carne que é vendida de maneira tradicional nos açougues. Já as carnes premium são originárias de qualquer parte da carcaça de um animal que apresente um diferencial significativo na percepção e no paladar do consumidor.
De maneira resumida (e até simplória) os principais fatores que caracterizam uma carne premium estão relacionados à idade de abate e acabamento de carcaça. Via de regra, são animais super precoces (abatidos ainda com dente de leite e antes de atingir a plena puberdade) entre 15 e 20 meses.
Nos machos, é aceitável como carne premium animais até dois dentes (entre 24 e 25 meses), já nas fêmeas, é aceitável até quatro dentes (entre 33 e 34 meses). Para atingir estes índices, o cruzamento industrial é uma ferramenta importante.
A cobertura de gordura nas carcaças e o marmoreio também são aspectos fundamentais e determinantes. Ou seja: o animal precisa ter sua carcaça pronta e terminada, com bons índices de gordura entremeada e de cobertura, antes de atingir a puberdade.
É neste ponto que entra em cena uma das discussões mais polêmicas que envolvem este sistema de produção: a castração dos machos.
Aqui vale um adendo: o bem-estar animal também é um fator determinante para a classificação de carne premium, portanto, a castração deve considerar este fator e suas boas práticas, seja qual o método utilizado (cirúrgicos, químicos ou biológicos).
Não existe um consenso entre os técnicos que atuam na pecuária de corte, mas é possível tomar decisões baseadas em informações. O mais importante é lembrar que: nenhuma ação isolada trás resultado. Se optar pela castração, o criador precisará de um planejamento que envolva todos os fatores da produção: sanidade, nutrição e manejo.
No Brasil é proibida a utilização de hormônios de crescimento na produção bovina. Por isso, técnicos que defendem a manutenção de animais inteiros, destacam que o criador precisa utilizar o hormônio natural de crescimento que vem com a puberdade. Isso aumenta a capacidade de ganho muscular dos machos. Se o animal cresce mais, também vai produzir mais carne.
Já os técnicos que defendem a castração argumentam que os animais são abatidos antes de entrarem na puberdade e que, portanto, a produção natural do hormônio de crescimento é irrelevante no processo.
Mas existe um consenso: animais castrados facilitam o manejo, já que podem permanecer nos mesmos lotes e piquetes que as vacas, não tentam furar a cerca nem brigam entre si. Isso reduz o custo e facilita a rotina na fazenda.
Ainda existe uma terceira opção: produtores que mantém os animais inteiros durante a maior parte de sua permanência no sistema produtivo, castrando apenas quando o animal vai para a fase de terminação. Em tese, ele aproveita o hormônio do crescimento e pensa na terminação de carcaça na fase final.
Embora não seja possível dizer categoricamente um sim ou não para a castração, é possível determinar cenários onde ela deve ser utilizada ou evitada.
Se o seu rebanho não tem genética de ponta (em especial o cruzamento com raças taurinas), se seu abate é tardio, se o seu frigorífico não bonifica por qualidade e te paga preço de comodities: não castrar é uma alternativa. O animal terá mais musculatura (peso), mesmo que seja mais difícil alcançar um padrão de terminação de carcaça de excelência.
Já se o objetivo é abater animais super precoces, preconizando a qualidade de acabamento das carcaças, mesmo que precise investir mais em nutrição (bom pasto e alta oferta de concentrados) para alcançar um bom volume muscular, a castração é uma alternativa viável. Porém, é importante frisar: para que faça sentido financeiramente, é preciso que o seu frigorífico pague bonificação por esta carne.
O fato é que em um ponto todos concordam: o mercado de carne premium está em franca expansão e precisa de novos produtores.
Programa Touro zero: um exemplo que vem de Rondônia
O veterinário e pecuarista Ademir Ribeiro, da Estância Espora de Prata, em Ariquemes/RO, é idealizador do Programa Touro Zero. Ele é um personagem conhecido na produção de carnes premium, com um sistema de manejo que trabalha com 100% dos machos castrados no nascimento, utilizando IATF (inseminação artificial em tempo fixo) em toda sua vacada comercial, no cruzamento com Aberdeen Angus.
Ele defende a castração na produção de carne premium como parte de um sistema de manejo que já é aplicado na propriedade da família há nove anos, com bons resultados.
Segundo ele, os animais são abatidos, em média, com 19@ em 15 meses, num sistema que faz cria, recria e engorda, com terminação intensiva a pasto e fornecimento de suplementação de concentrados, sem volumoso no cocho.
Ademir Ribeiro será o personagem de nossa próxima matéria especial sobre “Produção de carne premium – os desafios do Brasil”.