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Leite: Receita atinge recorde real, mas custos também sobem; momento exige cautela do produtor

Os custos foram impulsionados pela alta generalizada dos grãos, em especial do milho e do farelo de soja, importantes componentes das rações concentradas.

Leite: Receita atinge recorde real, mas custos também sobem; momento exige cautela do produtor

A pandemia de coronavírus deixou – e ainda tem deixado – o ano de 2020 repleto de incertezas. O agronegócio, no entanto, tem se mostrado mais uma vez um setor resiliente e vem registrando resultados positivos. Dados da CNA em parceria com Cepea indicam que, no primeiro semestre de 2020, o crescimento do PIB do agronegócio foi de expressivos 5,26%, sendo este o avanço mais intenso para uma primeira metade de ano.

No caso do setor leiteiro, as incertezas no mercado início da pandemia deixaram pecuaristas mais cautelosos – entre março e abril, muitos secaram as vacas ou diminuíram os investimentos. Esse cenário se somou ao período de sazonalidade da produção no meio do ano, resultando em consecutivos recordes nos preços do leite pagos ao produtor nos últimos meses. Em setembro, especificamente, a “Média Brasil” líquida do Cepea atingiu R$ 2,13/litro, um recorde real da série (os valores mensais foram deflacionados pelo IPCA de agosto/20). Na parcial deste ano, o aumento no preço do leite é de expressivos 56,4%.

Por outro lado, os custos de produção também subiram. Cálculos realizados pelo Projeto “Campo Futuro”, parceria entre a CNA e o Cepea, indicam que o Custo Operacional Efetivo (COE), que considera os desembolsos correntes das propriedades, acumula alta de 7,57% de janeiro a agosto, tendo-se como base a “média Brasil” (BA, GO, MG, PR, RS, SC e SP). Ressalta-se que, no mesmo período do ano passado, o aumento havia sido de ligeiro 0,14%. Dentre os estados acompanhados pela CNA/Cepea, os que apresentaram as elevações mais fortes nos custos foram Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Minas Gerais. De janeiro a agosto, os desembolsos nestes estados aumentaram 11,53%, 9,35%, 7,71% respectivamente.

Os custos foram impulsionados pela alta generalizada dos grãos, em especial do milho e do farelo de soja, importantes componentes das rações concentradas. Os custos com os concentrados chegam a comprometer até 30% da receita anual de uma propriedade de bom desempenho produtivo.

Ainda que a receita tenha subido com mais força que os custos ao longo deste ano, favorecendo a margem do produtor leiteiro, este momento deve ser avaliado com cautela. Isso porque a forte valorização do dólar neste ano elevou os preços de importantes insumos pecuários que são importados e influenciou também a valorização doméstica dos grãos e derivados, à medida que estimulou as exportações brasileiras desses produtos. E esse contexto deve continuar se refletindo sobre o bolso do produtor nos próximos meses. No caso da receita, o movimento de alta no preço do leite ao produtor deve perder a força a partir de outubro, devido ao final da entressafra e a condições climáticas mais favoráveis para a produção leiteira com a chegada da primavera. 

RELAÇÃO DE TROCA – Tendo-se como base o preço do leite na “média Brasil” e a média do milho das regiões acompanhadas pela Equipe de Grãos do Cepea, de janeiro a agosto, o poder de compra do produtor leiteiro caiu frente ao mesmo período do ano passado. Entre janeiro e agosto de 2020, com a venda de um litro de leite, o produtor comprou, em média, 1,94 quilo de milho, sendo que, no mesmo período do ano passado, era possível adquirir 2,53 quilos com a venda de um litro de leite. Para o farelo de soja, a venda de um litro de leite possibilita a compra de 0,98 quilo do derivado, contra 1,22 quilo de janeiro a agosto do ano passado. Isso evidencia que, apesar da recente alta na receita, o produtor perdeu o poder de compra frente o seu principal insumo.

FUTURO – As referências do mercado futuro sinalizam que expectativas dos agentes do mercado são de continuidade dos preços firmes, para soja e o milho, até o final de 2020 e início do ano que vem. Por outro lado, sazonalmente, como mencionado acima, os preços do leite tendem a recuar com a chegada das chuvas e a melhoria das condições das pastagens. Já pelo lado da demanda, a redução dos valores pagos no auxílio emergencial pode retrair o consumo observado até setembro, alterando, assim, o apetite de compra e a competição entre indústrias pelo leite no campo.

Diante disso, cabe ao produtor atenção constante e o monitoramento dos números do mercado e principalmente do seu negócio. Vale ressaltar que a elevação pontual dos preços pode resultar em melhoria das margens da propriedade, mas somente o aumento da eficiência produtiva garante que essas margens se sustentem ao longo do tempo.  

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