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Método de controle do capim-annoni aumenta produtividade da pecuária
Não vale a pena investir em melhoramento de campo nativo se o capim-annoni não for também controladoA implantação do Método Integrado de Recuperação de Pastagens (Mirapasto) tem sido a melhor opção para recuperar uma área degradada em uso com a atividade pecuária. É o que comprovam pesquisas comparativas entre uma área recuperada com o método e outra usada como testemunha, que recebeu somente o melhoramento do campo nativo, sem controle do capim-annoni (Eragrostis plana Nees), planta invasora de rápida infestação. O estudo foi feito durante sete anos, na Embrapa Pecuária Sul (RS), e constatou que não vale a pena investir em melhoramento de campo nativo se o capim-annoni não for também controlado.
Em média, no estado do Rio Grande do Sul, as propriedades de pecuária de corte em campo nativo, com alta taxa de infestação por capim-annoni, conseguem ter uma produtividade média que pode variar de 44 a 78 quilos anuais de carne por hectare, conforme o tipo de solo e a região. “Com o Mirapasto, a produtividade pode chegar a 500 kg/ha/ano, recuperando a área que estava tomada pelo capim-annoni”, garante o pesquisador da Embrapa Naylor Perez.
Os experimentos mostraram que a área de campo nativo infestado, com mais de 80% de ocupação por capim-annoni e sem o seu controle, permitiu ganhos de 222 kg/ha/ano de peso vivo de bovinos ao ser melhorada com adubo e introdução de forrageiras. Esse valor representa a média dos sete anos. Porém, o custo para melhoramento do campo nativo não gerou um resultado econômico satisfatório, pois o valor de 172 kg/ha/ano foi equivalente aos gastos com o adubo e as sementes.
Dessa forma, o estudo comprovou que não há retorno econômico para o produtor, caso a opção seja simplesmente melhorar com adubação e introdução de forrageiras no campo nativo infestado pelo capim-annoni. “Precisamos tirá-lo do campo para recuperar as áreas degradadas. Alguns produtores relatam que, numa situação de falta de chuvas, o capim-annoni no campo nativo é o que salva, mas ele não dá o retorno que o produtor gostaria e, ao longo do tempo, só estará reinfestando a área”, explica a pesquisadora da Embrapa, especialista em plantas daninhas, Fabiane Lamego.
Um problema para a pecuária
O capim-annoni foi introduzido acidentalmente no Brasil na década de 1950, contaminando sementes de plantas forrageiras importadas da África do Sul. Devido à sua rusticidade, foi identificado inicialmente como alternativa forrageira para os rebanhos, sendo comercializado na época pelo Grupo Rural Annoni.
Porém, a espécie acabou se tornando um grande problema para a pecuária, devido à baixa qualidade nutricional e ao elevado potencial de disseminação. Sua adaptação ao clima e solos sul-brasileiros, aproveitando melhor os nutrientes disponíveis no solo, aliada à rejeição do gado, quando mesclada com espécies forrageiras de boa qualidade, faz com que a invasora se alastre rapidamente, dominando as pastagens para a criação animal.
A proposta do Mirapasto é, segundo Perez, bastante interessante, pois o campo nativo é melhorado juntamente com o controle do capim-annoni, aumentando a produtividade média para 382 kg de peso vivo/ha/ano. “Então, se abatermos o custo de implementação do Mirapasto, aproximadamente 243kg de peso vivo/ha/ano, incluído o gasto para controle do capim-annoni, da produtividade animal obtida na área melhorada, ficamos com um saldo positivo de 139 kg de peso vivo/ha/ano. Os números asseguram que esse caminho é melhor do que ficar com o campo infestado, produzindo no máximo 78 kg de peso vivo/ha/ano, ou melhorar o campo nativo infestado e não tirar o capim-annoni, tendo um saldo médio de 50 kg/ha/ano”, destaca o pesquisador.
Fertilidade e sustentabilidade
Além do ganho econômico, o Mirapasto proporciona um manejo voltado à sustentabilidade da área, pois evita que o capim-annoni continue produzindo sementes. “Assim detemos o aumento do banco de sementes do solo dessa invasora e, ao longo do tempo, a infestação é reduzida. Foi o que ocorreu na nossa área experimental”, explica Fabiane Lamego.
Porém, para obter esses resultados, é necessário percorrer alguns passos. O Mirapasto possui quatro fundamentos que devem ser realizados no campo: controle de plantas indesejáveis por meio da aplicação seletiva de herbicida; correção e manutenção da fertilidade do solo; introdução de espécies forrageiras; e ajuste da oferta de pasto. O conjunto dessas ações proporciona um resultado mais efetivo no combate à infestação.
Quando intervir
A decisão do produtor rural deve ser tomada o quanto antes, ao constatar a presença esparsa da invasora na propriedade. “Deve-se iniciar o controle tão logo plantas individuais sejam notadas, pois baixas infestações, entre 5% e 20%, já comprometem o crescimento do pasto e geram dano econômico. É importante, então, agir no combate dos primeiros focos”, frisa Naylor Perez. A prática mais comum, segundo o pesquisador, tem sido o produtor reagir quando a maior parte do campo nativo já está comprometida.
"Antes do controle da invasora, é imprescindível um planejamento para melhorar a fertilidade dos solos. O produtor deve coletar o solo, realizar a análise e verificar o pH, as condições de nitrogênio, fósforo, se precisa de calagem etc.”, lembra o instrutor do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural do Rio Grande do Sul (Senar/RS) Leonardo Perez.
De acordo com Naylor Perez, o período ideal para controlar o capim-annoni é no fim do verão e início do outono, momento em que é mais fácil introduzir, a lanço ou por plantio direto, as espécies de forrageira de inverno e posteriormente as de verão. O objetivo é, além de promover uma nutrição animal com dieta adequada, recobrir a área que antes era dominada pela invasora, até que o campo nativo ou o pasto cultivado se restabeleça.
A pesquisadora Fabiane Lamego frisa ser fundamental que o produtor entenda o Mirapasto como um todo, pois apenas a aplicação desconexa dos quatro fundamentos pode não surtir o efeito esperado. “O Mirapasto compila uma forma integrada de lidar com o capim-annoni, evitando sua expansão. É muito difícil que uma prática isolada resolva o problema da sua infestação. É preciso juntar esforços, ter persistência e planejamento na adoção do método, ou seja, adotar o manejo integrado”, assegura.