#Pecuária
O que está acontecendo com a relação de troca bezerro/boi gordo?
Para tentar entender o que está acontecendo com os preços de bezerro e do boi gordo pesquisadores da Embrapa Gado de Corte realizaram um levantamento sobre o assunto
Guilherme Cunha Malafaia*
Paulo Henrique Nogueira Biscola*
Fernando Rodrigues Teixeira Dias*
Esta pergunta paira na cabeça dos pecuaristas quando veem as cotações dos bezerros chegando a patamares muito altos, na casa dos R$ 2 mil, e trazem a dúvida se a conta vai fechar, quando consideram este patamar de preços de bezerro para reposição, o valor da arroba do boi gordo praticado no mercado e o cenário adverso causado pela pandemia do novo coronavírus.
Para tentar entender o que está acontecendo analisamos os preços de bezerro e do boi gordo nos últimos sete meses (desde 01/10/2019) com dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada - CEPEA-USP. Nesse período o menor valor da relação de troca de bezerro por arroba de boi gordo foi encontrado no dia 22/11/2019 (6,5@ para cada bezerro). O preço do bezerro seguiu estável enquanto a arroba subiu até o valor de R$ 232,09 em 29/11/2019, o que levou à queda da relação de troca bezerro/arroba de boi gordo.
Após 22/11/2019 o cenário da relação de troca começou a se alterar, com a arroba do boi gordo diminuindo até chegar a R$ 186,84 em 29/01/20 (queda de 18,8 %), enquanto o preço do bezerro começou a subir, ficando 35,4% mais alto em 11/05/2020 em relação a 22/11/19 (R$ 2.028,81 por cabeça). O preço estável e mais baixo da arroba do boi gordo, em conjunto com o preço crescente do bezerro, fez com que a relação de troca bezerro/arroba do boi gordo atingisse o patamar mais alto em 18/03/2020, 60,2% superior ao valor de 22/11/2019 (10,4@ para cada bezerro). Em 11/05/2020, a relação de troca esteve 55,2% mais alta do que em 22/11/19 (10,1@ para cada bezerro). Para os recriadores, esta relação atingiu um dos piores patamares da série histórica de 26 anos acompanhada pelo CEPEA.
A valorização dos preços dos bezerros pode ser explicada, em parte, pelo ciclo pecuário, isto é, quando o abate de matrizes em anos anteriores reduz a disponibilidade de bezerros levando ao aumento de seu preço de venda. Além disso, muitos leilões de animais de reposição foram cancelados em função da pandemia COVID-19, contribuindo para a redução do volume de negócios.
O valor em alta do bezerro afetará diretamente os confinamentos do segundo semestre, pois a reposição representa cerca de 65% do custo de produção. Aqueles produtores que fizeram gestão de risco e travaram preços no mercado futuro para outubro com o valor da arroba na faixa de R$ 210,00 a R$ 215,00 deverão continuar na mesma escala. O problema maior é de quem precisará de reposições sem estar com o preço do boi gordo travado no mercado futuro para o segundo semestre de 2020.
Assim, recomenda-se fortemente aos pecuaristas a utilização de ferramentas de comercialização que minimizem o impacto da volatilidade de preços do mercado pecuários nos seus negócios.
*Pesquisadores do Centro de Inteligência da Carne - CiCarne, Embrapa Gado de Corte/MS