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Pesquisa determina momento certo para controle da lagarta Helicoverpa armigera em tomate industrial

A infestação de lagartas pode ocasionar perdas consideráveis na produção

Pesquisa determina momento certo para controle da lagarta Helicoverpa armigera em tomate industrial

Mais de 85% das amostras de lagartas coletadas em tomateiros de diferentes polos de produção brasileiros, entre 2012 e 2014, foram da espécie Helicoverpa armigera. O dado é de um monitoramento em larga escala executado por pesquisadores da Embrapa no plantio do tomateiro. A infestação de lagartas pode ocasionar perdas consideráveis na produção, principalmente se houver surtos populacionais devido a condições climáticas favoráveis, como secas prolongadas e períodos quentes.

Para facilitar a convivência com a Helicoverpa armigeranos cultivos de tomate para processamento industrial, os especialistas calcularam o nível de controle da lagarta a partir da amostragem da praga nas lavouras e dos fatores que compõem os custos para seu controle. Eles recomendam aos produtores monitoramento periódico e planejamento para o controle dessa praga, pois a simples presença da espécie no campo não justifica a aplicação de inseticidas. É preciso avaliar o nível de dano econômico da infestação e considerar outros métodos de combate, como o manejo integrado de pragas (MIP) e o controle biológico.

Praga chegou há cinco anos

A chegada da lagarta Helicoverpa armigera às lavouras brasileiras, na safra de 2012/2013, causou alvoroço no setor produtivo de diversas culturas agrícolas, que se surpreendeu com a voracidade do inseto e os altos índices de perdas. Por ser uma praga altamente polífaga, que não faz distinção de alimento, as plantações de tomate para processamento industrial também foram prejudicadas, especialmente nas regiões produtoras em que a paisagem agrícola é composta por plantios de algodão, soja, milho e feijão.

De lá para cá, para evitar que novos surtos populacionais da lagarta ocasionem perdas significativas, pesquisadores mobilizaram-se para monitorar o plantio de tomateiro e, assim, determinar quais são as espécies de lagartas predominantes nas principais regiões produtoras do País.

O levantamento considerou lagartas do mesmo grupo taxonômico, ou seja, insetos da subfamília Heliothinae: em segundo lugar aparece a Helicoverpa zea, com 10,67%, seguida da lagarta Chloridea virescens (= Heliothis virescens), presente em 4% das amostras. O monitoramento ainda atestou a ocorrência simultânea de, pelo menos, duas espécies dessa subfamília dentro da mesma lavoura de tomateiro para processamento industrial.

“Embora vários estudos tenham abordado a ocorrência dessas lagartas em diferentes cultivos, esse foi o primeiro levantamento da subfamília em plantios de tomate realizado em ampla escala, cobrindo diferentes polos de produção no Brasil”, revela o pesquisador Miguel Michereff. As coletas mensais de lagartas atacando frutos de tomate foram feitas em 23 localidades: oito no Distrito Federal, duas no Espírito Santo, duas em Santa Catarina, uma em São Paulo e dez em Goiás.

De acordo com o cientista, a partir do monitoramento é possível compreender a magnitude do impacto negativo da introdução da Helicoverpa armigera no sistema produtivo de tomate para indústria no Brasil. As lagartas da subfamília Heliothinae eram pragas de importância econômica secundária e ocorrência esporádica nas lavouras antes do ingresso da nova lagarta que, até então, era uma praga exótica ainda não relatada no País.

“Os cálculos da avaliação do broqueamento nos frutos apontam que uma única lagarta de H. armigera em cada planta, no espaço de um hectare de tomate para processamento industrial (ou 30.000 lagartas/hectare), pode ocasionar uma redução na produção de 3,6 toneladas de frutos por hectare”, quantifica Nayara Cristina de Magalhães Sousa, bióloga e doutoranda em Entomologia Agrícola pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Ela explica ainda que, no caso de tomate para mesa, os furos inviabilizam a venda do fruto e, no tomate para processamento industrial, essa injúria pode causar perda considerável no rendimento da polpa.

A hora certa para o controle

Contudo, não se deve fazer alarde ao primeiro sinal de uma lagarta sem antes saber qual é o nível de controle que demandaria algum tipo de pulverização ou a adoção de qualquer outra medida. “O produtor precisa fazer o controle no momento exato porque, quando se faz antes ou quando se deixa de fazer, perde-se dinheiro”, observa Sousa. Nem sempre a simples presença da H. armigera na lavoura é um indicativo de dano econômico: é preciso avaliar se a população da lagarta é capaz de ocasionar um prejuízo maior do que o investimento para seu controle, considerando custos como produtos químicos, depreciação do maquinário, preço do diesel, diária do operador, entre outros.

Com base nas pesquisas desenvolvidas na Embrapa Hortaliças, o nível de controle da Helicoverpa armigera em plantios de tomate é de 2,5 lagartas, pequenas ou médias, por metro linear de cultivo, um número que se obtém por meio de amostragem e de uma fórmula que considera os variados custos envolvidos no controle da praga. Se após a amostragem da praga na lavoura for obtida uma infestação menor do que o patamar estabelecido, não é necessário fazer pulverizações porque há outros fatores na lavoura que contribuem para o equilíbrio, por exemplo, inimigos naturais e mecanismos de defesa da própria planta.

“A aplicação deve ser justificada e convertida em benefício para o agricultor, mesmo porque em H. armigera é muito comum a evolução de resistência aos produtos químicos após alguns anos de uso abusivo dos inseticidas”, assinala a bióloga, ao pontuar que o nível de controle é estabelecido para uma praga específica em determinada cultura agrícola e não existe um valor padrão que se encaixe em quaisquer cultivos.

Uso racional de químicos

Hoje, cinco anos após o ingresso da lagarta, conhecer a praga e inspecionar a lavoura periodicamente continuam sendo fatores-chave para um controle bem-sucedido que seja feito somente quando necessário e não tome por base a calendarização de pulverizações, que pode ser mais cômoda, mas também é mais dispendiosa. “Nós observamos que o controle químico ainda prevalece para o controle da H. armigera, mas é preciso incentivar o uso racional de produtos com base em parâmetros para decisão, como o nível de controle, para coibir o uso abusivo. Além disso, temos que avançar no manejo integrado e no controle biológico, que têm eficácia comprovada”, pondera Michereff.

Ainda que a praga já não assuste como antes, sua presença nos cultivos de tomate para processamento industrial é uma realidade e surtos ocasionais ainda podem ocorrer no futuro em função de condições climáticas favoráveis ou de mudanças no sistema de produção, como a inclusão de outras culturas hospedeiras compondo a mesma paisagem agrícola e funcionando como uma “ponte verde” na entressafra do tomate para processamento industrial.

“Mesmo atualmente, quando não se controla bem essa praga em soja ou algodão, é possível observar aumento da população de lagartas de H. armigera no tomate e perdas de 20% a 30%”, comenta o cientista que ressalta: “A lição de tudo é que temos que monitorar e fazer a inspeção periódica da lavoura porque a Helicoverpa armigera é uma praga devastadora que não pode sair do radar do agricultor”.

A fatia da Helicoverpa

Ao longo do ciclo de produção de tomate para processamento industrial são feitas sete pulverizações, em média, somente com o objetivo de controlar a lagarta Helicoverpa armigera. Cada hectare produz por volta de 95 toneladas de tomate, o que no mercado atual renderia um total de R$ 20 mil, sendo que 5% desse valor é gasto apenas com as pulverizações para o controle da lagarta.

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