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Bactérias encontradas em rios amazônicos controlam agente causador da murcha bacteriana do tomate

A murcha bacteriana é uma das maiores ameaças à produção de tomate na Amazônia e afeta também outras culturas.

Bactérias encontradas em rios amazônicos controlam agente causador da murcha bacteriana do tomate

Estudo conduzido por cientistas brasileiros mostrou que microrganismos oriundos de rios amazônicos podem ser a chave para o controle biológico da bactéria do solo Ralstonia solanacearum, responsável pela murcha bacteriana em tomateiros. Os resultados são promissores para o desenvolvimento de soluções biológicas - a exemplo de inoculantes microbianos - eficazes para reduzir a ocorrência da doença, uma das maiores ameaças à produção de tomate na Amazônia e capaz de afetar também outras espécies vegetais.

O estudo, coordenado pelo pesquisador da Embrapa Amazônia Ocidental Gilvan Ferreira da Silva, avaliou o potencial de bactérias isoladas dos sedimentos dos rios Solimões e Negro para combater a murcha bacteriana. Do total de 36 bactérias selecionadas, foram identificados três isolados bacterianos, o Priestia aryabhattai RN 11, o Streptomyces sp. RN 24 e o Kitasatospora sp. SOL 195, que demostraram uma notável capacidade de inibir o crescimento da Ralstonia solanacearum em 100%, 87,62% e 100%, respectivamente.

Quanto à ocorrência da doença, em ensaios durante as estações seca e chuvosa, P. aryabhattai RN 11 reduziu a incidência da murcha bacteriana em 40% e 90%, respectivamente, ao mesmo tempo em que promoveu o crescimento das plantas infectadas. Streptomyces spRN 24 e Kitasatospora sp. SOL 195 exibiram altas taxas de sobrevivência (85 a 90%) e supressão do patógeno no solo (maior que 90%), demonstrando seu potencial como agentes de biocontrole.

O isolado P. aryabhattai RN 11, em particular, destacou-se por sua eficácia na supressão do fitopatógeno no solo, reduzindo a incidência de murcha bacteriana e promovendo o crescimento das plantas de tomate sob diversas condições climáticas. Além de sua ação de controle da doença no tomateiro, essas bactérias também demonstraram a habilidade de produzir enzimas extracelulares e compostos que promovem o crescimento das plantas.

A descoberta de possíveis novas espécies de Streptomyces (RN 24) e Kitasatospora (SOL 195) reforça a importância da biodiversidade microbiana da Amazônia como fonte de compostos bioativos e agentes de biocontrole. Esses achados evidenciam, ainda, a necessidade de estudos futuros para explorar o potencial dessas novas espécies, avaliar a eficácia dos isolados em condições de campo e entender os mecanismos moleculares envolvidos na interação planta-microrganismo.

A pesquisa foi direcionada no sentido de contribuir para o manejo sustentável da murcha bacteriana em tomates, mas esse potencial de biocontrole da doença pode se estender a outras plantas. “A Ralstonia solanacearum é uma bactéria de solo que ataca dezenas de outras espécies vegetais como a batata, o pimentão, a pimenta, a berinjela, a banana, o amendoim, o feijão e a soja”, lembra Ferreira.

Fotos acima: Jennifer Salgado

Potencial amazônico

O estudo faz parte de pesquisas coordenadas pelo microbiologista Gilvan Ferreira da Silva, que tem estudado a microbiota da Amazônia com foco no desenvolvimento de soluções para a agricultura. Os trabalhos realizados por sua equipe de pesquisa têm como característica o aspecto multidisciplinar envolvendo diferentes abordagens, além da agrícola e microbiológica, incluindo a química de produtos naturais, a genômica e a bioinformática.

A identificação de microrganismos retirados de sedimentos de rios amazônicos vem sendo feita pela Embrapa Amazônia Ocidental a partir de coletas nos rios Madeira, Purus, Solimões, Juruá e Negro, realizadas entre 2018 e 2019. Na ocasião, as coletas de sedimentos foram feitas a cada 50 km, no percurso desses rios.

Após análises no Laboratório de Biologia Molecular do centro de pesquisa, foi identificada uma grande diversidade de microrganismos com potencial para o desenvolvimento biotecnológico voltado à produção de bioinsumos, ao controle de patógenos de interesse agrícola, à promoção do crescimento de plantas, a aplicações em atividades industriais, entre outras aplicações.

Os resultados dessa pesquisa também representam um avanço científico na pesquisa com microrganismos, destacando o potencial biotecnológico da diversidade microbiana amazônica.

Ferreira destaca que o resultado obtido com o biocontrole de Ralstonia solanacearum é um dos primeiros trabalhos reportando a aplicação agrícola dos microrganismos oriundos dos rios amazônicos.  “Há outros em andamento, mostrando que microbiota do Bioma Amazônia, principalmente a dos rios, pode ter uma aplicação importante na agricultura, tanto na parte de controle de patógenos quanto na prospecção de novas moléculas. Então é um material muito rico que está sendo desdobrado em diversos trabalhos”.

O pesquisador costuma usar o termo “mineração genômica”, se referindo aos   microrganismos como “minérios” ou “tesouros”. E afirma que sua prospecção pode ser mais rentável economicamente do que a de minérios tradicionais. Diante da diversidade existente na região amazônica, o pesquisador explica que é necessário selecionar, por meio de técnicas científicas, os microrganismos de acordo com a aplicação almejada, fazer o sequenciamento de genomas completos, para então fazer a mineração genômica daqueles de interesse, visando à prospecção de moléculas de substâncias que tenham alto valor agregado biotecnológico.

Artigo publicado

O estudo consta  no artigo "Amazonian Bacteria from River Sediments as a Biocontrol Solution against Ralstonia solanacearum" publicado no periódico Microorganisms, e reúne como autores os pesquisadores Jennifer Salgado da Fonseca e Thiago Fernandes Sousa, do Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia da Universidade Federal do Amazonas (UFAM);  Suene Vanessa Reis de Almeida e Carina Nascimento Silva, além do professor Rogério Eiji Hanada, do Programa de Pós-Graduação em Agricultura no Trópico Úmido do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa); Gleucinei dos Santos Castro e o professor Hector Henrique Ferreira Koolen, do Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade e Biotecnologia da Universidade do Estado do Amazonas (UEA); Michel Eduardo Beleza Yamagishi, da Embrapa Agricultura Digital; e Gilvan Ferreira da Silva, da Embrapa Amazônia Ocidental, que coordenou a pesquisa.

 

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