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Guia AgroRondônia

#Stella Cristiani Gonçalves Matoso

Série “Microrganismos do solo: os aliados do agricultor”

Cuidados com os inoculantes e com a inoculação

Série “Microrganismos do solo: os aliados do agricultor”

Os inoculantes são produtos que contém microrganismos benéficos disponíveis para uso na agricultura, tais como bactérias diazotróficas (envolvidas na fixação biológica de nitrogênio (FBN)) e/ou rizobactérias promotoras do crescimento de plantas (que inclui mecanismos como a produção de hormônios do crescimento vegetal, solubilização de elementos essenciais para as plantas como o fosfato e proteção contra a ação de patógenos).

O uso de inoculantes é uma realidade no cenário mundial, e o Brasil é pioneiro na produção e utilização desses produtos. No entanto, no Estado de Rondônia a disponibilidade dos inoculantes no mercado ainda é considerada baixa quando comparada a nível nacional. Fatores relacionados à inexistência de laboratório para produção e a precariedade da difusão tecnológica, têm dificultado a logística de revenda e o avanço da disseminação e uso da tecnologia.

A verificação de registro de um inoculante junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) é um dos cuidados indispensáveis no momento da aquisição. Contudo, este registro só é possível após algumas etapas essenciais: seleção de rizobactérias promotoras do crescimento vegetal; validação da eficiência agronômica a partir de pesquisas científicas; registro no MAPA e lançamento do produto comercial.

A fiscalização do produto pelo MAPA visa assegurar condições e características ideais e específicas, como por exemplo, a quantidade de unidades formadoras de colônias (UFC) bacterianas ou fúngicas (o número viável, com capacidade de multiplicação, de células e/ou propágulos). Neste contexto, o inoculante deve ter uma população mínima de microrganismo por grama ou mililitro do produto, considerando para bactérias fixadoras de nitrogênio que realizam simbiose com leguminosas uma concentração mínima de 1,0 x 10-9 UFC por grama ou mililitro de produto e para os demais inoculantes formulados com microrganismos promotores do crescimento de plantas e bactérias associativas a concentração deverá ser informada no processo de registro (BRASIL, 2011).

Figura 1 - Unidades formadoras de colônias de Rhizobium tropici.

Foto de Angelita Aparecida Coutinho Picazevicz

Na aquisição de inoculantes comerciais é imprescindível conferir a data de fabricação e validade do produto, uma vez que, se estiver fora do período determinado a quantidade e viabilidade de unidades formadoras de colônia poderá estar comprometida o que prejudica os resultados de crescimento, desenvolvimento e produção vegetal (eficiência agronômica). Além disso, o fornecedor deve  assegurar condições adequadas de armazenamento e transporte. Uma vez na propriedade, recomenda-se que o agricultor mantenha o inoculante em  locais bem arejados e de temperaturas amenas. Portanto, o insucesso do processo de inoculação ocorrerá se o produto for transportado e armazenado em ambientes com exposição direta ao sol e com elevadas temperaturas o que resultará na morte dos microrganismos.

Os inoculantes comerciais são disponibilizados no mercado em meio turfoso ou líquido, sendo que o primeiro se encontra na forma sólida, onde o veículo é a turfa (material orgânico) e o segundo, na forma líquida, no qual o veículo é um meio de cultura. Ambas as formas possuem condições específicas que visam assegurar a sobrevivência dos microrganismos adicionados. Ressalta-se que de acordo com instruções normativas para a produção dos inoculantes, estes produtos devem ser livres de contaminação, garantindo as especificações dos microrganismos selecionados para as diferentes culturas.

O processo de inoculação é a etapa em que os inoculantes microbianos são colocados em contato com uma estrutura vegetal como sementes ou plantas já estabelecidas no campo, podendo ser a aplicação via pulverização ou no sulco de semeadura. Esta última técnica é recente, considerando a difusão da tecnologia do uso de microrganismos para outras culturas além da soja.

Figura 2 - Processo de inoculação: sementes sem e com inoculante.

Foto de Angelita Aparecida Coutinho Picazevicz

Recomenda-se realizar a inoculação em  horários com temperaturas amenas (baixas) e menor incidência solar (à sombra), evitando exposição ao sol. Se a formulação do inoculante for turfosa (sólido), deve-se preparar uma solução açucarada, visando garantir a distribuição e aderência do produto às sementes. Neste contexto, pode ser utilizada uma solução com açúcar cristal a 10%, adicionando 100 g de açúcar cristal  para um litro de água (BRANDÃO JÚNIOR; HUNGRIA, 2000). Além disso, é necessário destacar a recomendação de 300 mL de solução açucarada para cada 50 kg de sementes.

A dosagem do inoculante a ser utilizada depende das recomendações técnicas do fabricante, sendo variáveis para a formulação turfosa ou líquida. No procedimento de mistura do inoculante com as sementes, a utilização de equipamentos rotativos, como uma betoneira, pode contribuir operacionalmente para esta atividade. O recomendável é que o recipiente de mistura seja utilizado somente para esta finalidade, evitando contaminação por agroquímicos, o que pode reduzir a eficiência do processo de inoculação. Após a inoculação é ideal deixar as sementes secarem à sombra por pelo menos 30 minutos, e na sequência realizar a semeadura. Porém, caso não seja possível realizar a semeadura em até 24 horas, devem-se manter as recomendações de armazenamento à sombra e em local de temperatura amena, e repetir a inoculação no dia da semeadura.

Nas culturas inoculadas  é necessário redobrar a  atenção com a aplicação de agrotóxicos (bactericidas, fungicidas), uma vez que estes podem reduzir as comunidades de microrganismos benéficos para as plantas, sejam eles nativos ou introduzidos via inoculantes. O cuidado deve ser redobrado se o uso desses produtos for feito no tratamento de sementes, devendo-se primeiro aplicar os agrotóxicos, deixar as sementes secarem e depois realizar o processo de inoculação. Neste sentido, uma alternativa que vem sendo adotada é a inoculação diretamente no sulco de plantio. Nesse caso, indica-se a utilização de 2,5 vezes a dose do inoculante recomendada para a aplicação via semente, diluída em ao menos 50 L/água/ha. A inoculação no sulco é mais eficaz em áreas nas quais já foram realizados vários cultivos com o uso de sementes inoculadas, quando comparadas às áreas de primeiro plantio.

Outro fator a ser considerado é a aplicação de alguns adubos, como por exemplo, os nitrogenados em leguminosas, sendo que o processo de associação entre microrganismo e planta ficará comprometido, considerando que a planta terá a demanda do macronutriente atendida via adubação. Por outro lado, existem nutrientes que não podem faltar para garantir o sucesso da fixação biológica de nitrogênio, como o molibdênio e o cobalto, mas estes serão os temas dos nossos próximos artigos. Não deixe de conferir!

Referências

BRANDÃO JÚNIOR, O.; HUNGRIA, M. Efeito de concentrações de solução açucarada na aderência do inoculante turfoso às sementes, na nodulação e no rendimento da soja. Revista Brasileira de Ciência do Solo, Viçosa, MG, v. 24, n. 3, jul./set. 2000.

BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Secretaria de Defesa Agropecuária. Instrução Normativa no 13/2011/DF. Brasília, DF: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, 24 mar. 2011. Disponível em: https://www.diariodasleis.com.br/legislacao/federal/216614-normas-sobre- especificaues-garantias-registro-embalagem-e-rotulagem-dos-inoculantes-destinados-u-agricultura-aprovar-as-normas-sobre-especificaues-garantias-registro-emb.html. Acesso em: 21 out. 2021.

Autoria de:

Angelita Aparecida Coutinho Picazevicz¹; Erica de Oliveira Araújo²; Roberta Carolina Ferreira Galvão de Holanda²; Rosalba Ortega Fors³; Jessica Danila Krugel Nunes4; Stella Cristiani Gonçalves Matoso²

¹ Professora Doutora do Instituto Federal de Rondônia, Campus Cacoal;

² Professora Doutora do Instituto Federal de Rondônia, Campus Colorado do Oeste;

³ Doutora em Ciência do Solo pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro;

4 Professora Mestra e Doutoranda do Instituto Federal de Rondônia, Campus Ariquemes.

Contato: gpsam.colorado@ifro.edu.br

Angelita Aparecida Coutinho Picazevicz

 

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